A mídia e a Web, nos últimos dias, têm estado carregadas de tititis sobre as posições dos dois candidatos à presidência a respeito do aborto.
Eu fico muito triste quando vejo que a humanidade não aprendeu nada com os equívocos do passado.
Gente: estamos em pleno século 21 e estamos voltando à Idade Média no tema Estado/Igreja!
No Brasil, desde 1890 com o decreto 119-A foi instaurada a separação entre a Igreja e o Estado, no entanto várias vezes projetos de lei ficaram emperrados por interferente pressão da Igreja (anteriormente era só a Igreja Católica, atualmente Igreja Católica e evangélicas).
A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 19 diz:
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; (negrito meu).
E o que estamos vendo atualmente? O Congresso sendo ocupado por pastores e os partidos políticos alinhavando alianças com os representantes das igrejas para conseguir votos para seus candidatos.
Será que não aprendemos nada com a campanha genocida da Inquisição? Para quem não sabe, nesta época Igreja e Estado eram um só. Ou ainda, nos dias de hoje, com o exemplo do puritanismo retrógrado e hipócrita dos governantes e legisladores norteamericanos, ditados pelas igrejas de lá?
Infelizmente o Brasil sempre copiou os Estado Unidos, no bom e no ruim, e agora estamos copiando a ascensão do poder religioso.
Nada contra as crenças de cada um, mas no momento em que, através do poder, se arvoram em ditadores das leis em nosso país não posso concordar. O Estado precisa ser soberano, sem interferências de qualquer espécie.
O Brasil como Estado laico que diz ser (pelo menos na Constituição) não pode submeter a aprovação de leis à vontade e ao julgamento de religiosos ou igrejas.
Não considero o aborto uma prática elogiável, no entanto a descriminalização do mesmo vai salvar centenas, com o passar do tempo, milhares de mulheres da morte ou incapacitação por seqüelas de abortos realizados nas mais sórdidas condições.
A campanha atual contra isso é tão perversa na sua distorção do mérito que o que está de boca em boca é ser contra ou a favor do aborto e não a descriminalização do mesmo.
São duas coisas bem diferentes. Não confundam alhos com bugalhos.
Ser contra a descriminalização do aborto é pura ignorância ou hipocrisia porque todos nós sabemos que a prática continuará por debaixo dos panos e continuará matando tanto os fetos quanto as mães.
O argumento dos religiosos de o aborto ser contra a vida não se sustenta perante o fato do aborto criminalizado tirar muito mais vidas.
Acordem! Expandam suas consciências.
Imagem:http://www.ufmg.br/online/arquivos/010379.shtml
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11 comentários:
Realmente as Igrejas estão querendo voltar a dominar o País! - Será a volta da ditadura religiosa???
Pois é, Professor, mais uma coisa que copiamos dos americanos.
Espero que aqui não vingue já que o nosso país é tão diversificado no aspecto religioso.
Atena... Excelente artigo! Muito obrigada, no mais amplo sentido da palvra por me convidar a participar de maneira indireta do seu blog! Gostei do espaço, sobretudo, do conteúdo nele inserido. Parabéns!
Ah... sobre o aborto... Que dia deixarão a hipocrisia e a mentira aquel@s que escondem dentro de suas casas os mais hediondos crimes, ao exemplo da pedofilia? O pior é que, no momento, o debate está girando em torno de candidaturas...
Atena... Caso queria se utilizar do "http://saofranciscobyceliaregina.blogspot.com/" para divulgar seus textos, esteja à vontade. Um abraço
A política brasileira atravessa sua fase mais negra, e agora então, em época de eleições, tudo é possível, a qualquer um e em qualquer circunstância, em nome do voto e na luta pela conquista ou manutenção do poder.
Eu já disse em outras oportunidades, em comentários a postagens de outros blogs, que só aceito o aborto nas condições previstas atualmente pela lei, ou seja, quando em risco a vida da mulher ou quando ela tiver sido vítima de estupro, o que não quer dizer que eu seja radicalmente contra o aborto.
Sou contra enquanto não há uma lei específica que o regule. Sou contra enquanto não for possível controlar, de forma legal, a sua existência.
O problema é que ninguém, políticos ou partidos, quer assumir o risco de apresentar um projeto que regulamente a prática criminosa do aborto, que todos nós sabemos, e a postagem registra com precisão, continuará por debaixo dos panos, "matando tanto os fetos quanto as mães", e enriquecendo profissionais médicos inescrupulosos.
O Brasil de hoje é um país laico só na Constituição Federal. Uma verdadeira ditadura religiosa vem se desenvolvendo há algum tempo nos corredores do Parlamento, e agora mesmo, na hora de decidir o 2º turno das eleições presidenciais, "líderes" se movem nos quatro cantos do país para eleger o candidato ou candidata que melhor atenda aos interesses políticos de suas religiões ou seitas, o que é absurdo, mas continuará a acontecer enquanto a maior parte do eleitorado for incapaz de enxergar e se deixar manipular em nome Deus. E isso, infelizmente, não se muda da noite para o dia. O Professor Renato pergunta e eu não tenho medo de responder: se nada mudar, se a sociedade mais esclarecida não se mobilizar, dentro de muito pouco tempo estaremos vivendo, sim, uma ditadura religiosa.
Um grande abraço, Atena...
Celia Regina:
Que prazer tê-la por aqui e muito agradecida pelas gentis palavras. Vou, sim visitar seu blog.
abração
Carlos Roberto:
Agradeço muito seu comentário, pois suas opiniões são por demais importantes devido à sua formação e posicionamento político.
Preocupou-me sua opinião sobre uma futura ditadura religiosa. Precisamos esclarecer mais esse povo.
Obrigada e abraços
Eu acredito que não caminhamos para isso, as forças religiosas sempre estiverem presentes, um pouco mais um pouco menos influenciando aqui e ali, e temos inclusive nos coglomerados de informação essa incidencia, mas acho que não vamos chegar ao ponto de uma submissão religiosa do Estado ...ou não.
Joselito:
Eu espero que não, mas se você leu o comentário do Bob, provavelmente muito mais informado do que nós, a coisa tá perigosa.
O nosso povo precisa muito de esclarecimento e enquanto isso não ocorrer estamos à mercê dos demagogos.
Atena, enriquecendo ainda mais seu post, trago um pedaço do preâmbulo da Constituição Brasileira: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, SOB A PROTEÇÃO DE DEUS, a seguinte constituição da república federativa do Brasil.
Brasil é laico mesmo?
Lísias.
Lísias:
Pois é, você pegou bem a ideia. Já vi análise de jurista se referindo à mesma expressão que você destacou como sendo incoerente com o laicismo do Estado.
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