"No Egito as bibliotecas eram chamadas Tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.”

(Jacques Bossuet).

Milho de pipoca



(Rubens Alves)


A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.

O milho da pipoca não é o que deve ser.
Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas.
Só que elas não percebem.
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos:
Dor.
Pode ser fogo de fora: perder um filho, o pai ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio.
Apagar o fogo.
Sem o fogo o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro da sua casca dura, fechada em si mesmo.
Ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.

A pipoca não imagina aquilo de que é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
PUM! – e ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesmo nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A sua presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.

O destino delas é triste.
Ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca e macia.
Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo.

2 comentários:

CLAUDIA disse...

Olá Atena!
Adorei!!!Quando comecei a ler vi uma pessoa que convive comigo e é assim,dura e perfeita,somente ele é capaz de acertar,ai veio o fogo queimou e ele continua mais duro e incapaz de enxergar,como pode isso?!
Não sou perfeita,mas é tão bom como somos capazes de deixar o oleiro nos moldar(somos vasos sendo moldados).
Para que tanta rigidez? Se o legal da vida é viver hoje da melhor maneira,o amanhã não existe,então meu tempo é hoje,é agora.Como sempre minha cara amiga,maravilhosoooo!Bjos imensos!!

Atena disse...

É amiga, também conheço pessoas assim. O que sinto em relação a elas é pena, pois o lindo da vida são as mudanças (sempre para melhor, é claro).
Gosto de dizer: quem não muda, cria mofo. rsrs
beijão e obrigada pela visita