"No Egito as bibliotecas eram chamadas Tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.”

(Jacques Bossuet).

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Não confunda necessidade com desejo

bolsa Hermes
Estamos numa é poca onde desejos pululam em nossa cabeça. Vivemos completamente rodeados por propagandas nos convencendo a adquirir “trocentas” coisas que dizem necessitarmos. Será?

Vejamos primeiramente o que dizem, os especialistas no assunto, sobre as necessidades.
Henry Murray (psicólogo), um dos primeiros a pesquisar a respeito, classificou as necessidades humanas em:

- primárias ou viscerogênicas (necessidades biológicas como sede, fome ou sono)

- secundárias ou psicogênicas (derivadas de uma necessidade primária ou inerentes ao psiquismo humano)

Então as necessidades referem-se aos aspectos básicos da condição humana (pessoais, psicológicos, sociais). Ponto!

O reconhecimento ou conscientização de uma necessidade vem da comparação entre uma situação real, presente no momento, e uma situação ideal ou benéfica ao indivíduo. Se estou em jejum há 12 horas a necessidade que se apresenta é a de comida. Se estiver com frio é a de agasalho, se me sinto solitária aparece a necessidade de companhia (afiliação) e assim por diante.

As necessidades estão vinculadas não só à preservação da condição humana como também à nossa evolução. No passado não precisávamos de telefone celular, hoje muitos não vivem sem ele (confesso que eu não sei mais viver sem o “tio Google”). rsrs Ou seja, conforme vamos evoluindo as necessidades aumentam ou ... o que pensamos ser necessidades.

Aí é que está a armadilha: confunde-se necessidade com desejo.

Um bosquímano não necessita de um aparelho de TV, até porque ele não tem acesso à rede elétrica, mas não o tendo ele se encontra afastado e ignorante do mundo “civilizado”, sem chances de poder escolher entre permanecer em sua situação ou almejar algo diferente.

Então digamos que nos dias atuais uma TV é uma necessidade, mas ... é preciso, realmente, que o aparelho seja um flat último modelo? Ou isso é um desejo de ter sempre as últimas novidades eletrônicas ou para competir com o vizinho, colegas, etc.?

Nós precisamos, realmente, ter uma geladeira que forneça cubinhos de gelo na porta (gelo portátil, segundo os fabricantes)?

Uma criança precisa, realmente, ter seu quarto abarrotado de brinquedos ao ponto de não haver espaço para movimentação?

Uma bolsa Hermès (preços que podem variar de R$ 1.700,00 a R$ 100.000,00) não cumpre a mesma função que qualquer outra bolsa?

E por último, é necessário, realmente, ter torneiras de ouro em casa? Não riam porque elas existem, sim.

Bem, isso tudo são desejos e não estou dizendo que há algo de errado neles, mas é preciso que se tenha consciência disso para não cair em extremos de, por exemplo, ser “um Maria vai com as outras”.

Existe um risco com relação aos desejos que é a distorção dos motivos, o que é destrutivo para o ser humano, pode levar à depressão, frustração e até crimes. Quando se deseja uma coisa por ela mesma isso pode não ser problema algum (exceção: megalomania), mas quando se deseja algo como meio de obter um fim ... aí reside a distorção e consequentemente o problema. Digamos que você deseja ser promovido, não pela satisfação de ter sua capacidade reconhecida, mas sim porque quer se “vingar” daquele colega chato ou o exemplo que já dei do último modelo de TV: para disputar status com alguém.

Esse é o perigo. Algumas filosofias e religiões orientais preconizam a total eliminação dos desejos para alcançar o Nirvana ou a iluminação. Acreditam ser uma orientação de Buda. Como Buda alcançou a sua iluminação não acredito que ele tenha dito isso, mas ... cada um, cada um... rsrs

Consciência, essa é palavra. Na medida em que expandimos nossa consciência vamos vendo que muito do que queremos não são realmente necessidades, mas desejos que podem ser saudáveis, não nos causar mal algum ... ou não.

Para ilustrar, eis a seguir algumas das necessidades psicogênicas listadas por Murray:


Realização (vencer obstáculos e atingir um alto padrão)
Afiliação (fazer amizades, ligar-se afetivamente a alguém)
Autonomia (resistir à coerção e à restrição)
Autodefesa (evitar a humilhação, fugir de situações embaraçosas)
Apoio (ter suas necessidades satisfeitas pela ajuda simpática das pessoas)
Exibição (deixar uma boa impressão, causar admiração)
Rejeição (separar-se de uma influência negativa)

Imagem: todaoferta.uol.com.br


Este blog foi criado para você, leitor. E só saberei se você está satisfeito se comentar os posts, ou então, pergunte, questione e sugira temas ou modificações.

8 comentários:

Carlos Augusto Weissheimer disse...

Enquanto cada um de nós não resolver a questão fundamental. e nos dermos conta do que realmente "viemos fazer aqui" estaremos sempre presos as armadilhas desse mundo , então temos a maior parte dos irmãos terrestres, presos nessa teia gigantesca da ilusão e alguns outros , poucos despertos , tentando se livrar desse encantamento , cabe então aos que estão com o passo mais adiantado no caminho, considerados sob minha ótica os heróis desse mundo tentar despertar aos demais, bem como auxiliar em todos os sentidos aos mais fracos.

Atena disse...

Carlos Augusto:
Você está absolutamente certo quanto à questão fundamental. Infelizmente o despertar para ela é lento.
Apesar disso, continuemos esclarecendo. Vamos lá.
Obrigada pela visita e volte sempre.

Yolanda Hollaender disse...

Olá, Atena! Vive-se o Capitalismo desenfreado, que instiga todos a comprar o supérfluo: aparelhos de última geração, as melhores roupas, o melhor carro... Tem até "seitas religiosas" que tentam convencer seus seguidores comprar uma casa maior, um carro mais novo, pois só assim serão vencedores. Estranho! Como se a felicidade pudesse estar só nisso... Outro dia, ouvi de um conhecido que o consultor dele recomendou que ele deveria trocar o carro por um zero, de cor chamativa, para, assim, ter sucesso nos negócios... O sujeito se endividou e está aguardando o milagre...
Como na música de Ludmila Ferber:"Eu não preciso matar um leão todos os dias para ser feliz. Eu não consigo carregar o mundo nas costas. Eu não sou uma máquina de erros e acertos."
Meu cordial abraço,
Yolanda

Atena disse...

Cara Yolanda:
É verdade, o capitalismo, que antes era só desenfreado nos USA, agora é aqui também. parece que os brasileiros adoram copiar tudo o que não presta dos americanos. Por que não copiamos o que eles têm de bom também?
Acho que essa farra consumista está com os dias contados com essa crise econômica que também chegará aqui.
Beijos e obrigada

Lari Bohnenberger disse...

Excelente texto, Atena. A diferenciação entre o que é necessidade e o que é desejo é essencial para que possamos estabelecer os limites para este último. Mas não é fácil. Eu admito: sou uma pessoa completamente entregue aos meus desejos. E costumo transformá-los em necessidade, mesmo no fundo sabendo que não passam de uma frescura da minha parte. É necessário uma força de vontade tremenda para driblar as armadilhas do mundo moderno. Mas eu juro que estou tentando, rsrsrsrsrs!

Agora, o que mais me chamou a atenção nas suas palavras, justamente por eu reconhecer a característica em pessoas do meu convívio diário, foi a questão do desejo provocado pela competitividade. Se o fulano comprou um celular de última geração, não posso ficar atrás, preciso comprar um também. Se o beltrano trocou de carro, eu troco o meu por um mais caro, só pra poder me exibir. Acho que aí a coisa torna patológica. Porque aí se percebe que o prazer intrínseco à realização de um desejo, neste caso, está voltado para o outro. Como se estivesse na dependência de provocar inveja alheia, e não na simples vontade de ter algo de que se gosta.

Bjs!

Atena disse...

Olá, Larissa:
Disse bem, o desejo quando não é um fim em si próprio fica patológico e me parece que isso é bastante comum.
Quanto aos seus desejos, não há mal em se ter desejos, desde que eles não interfiram na sua autonomia.
Afinal, quem manda, você ou seus desejos? rsrs
Obrigada pela visita e beijocas

Cidadão Araçatuba disse...

Tudo bom?
Vou postar hoje os dois vídeos do Zimbardo que tratam do efeito lúcifer.
O mesmo que você postou, mas no Youtube estão divididos.
Gostaria muito que quando pudesse desse uma passada no cidadão e abrilhantasse os vídeos com um comentário.
Grande abraço e excelente final de semana!

Atena disse...

Olá, Cidadão:
Pode deixar que passarei por lá.
abraços