"No Egito as bibliotecas eram chamadas Tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.”

(Jacques Bossuet).

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Como você vê o mundo? - Parte 2

espelho

Neste post vamos abordar os fatores psicológicos que interferem na nossa percepção das pessoas e das situações.

Traços de personalidade. Há características ou traços de personalidade que se repetem nos mais variados indivíduos. As pessoas mais observadoras conseguem percebê-lo, contudo a psique humana é muito rica e não há como padronizar os tipos de personalidade.

Então, a personalidade (como a pessoa é) influencia a maneira de perceber. Vou dar um exemplo simples e bem típico: o humor negro. Alguns o acham o máximo e riem à beça, no entanto outros se chocam e não acham a menor graça.

Outros fatores interferentes na percepção são os chamados mecanismos de defesa (mecanismos internos de controle, usados automaticamente, para enfrentar angústia, impulsos agressivos, ressentimentos, frustrações, ec.). Todos nós os utilizamos, uns mais outros menos.

O mecanismo mais primitivo, isto é, mais imaturo é a:

Negação. Ou seja, o indivíduo se recusa a perceber determinado fato ou situação, desejo, pensamento nocivo ou intolerável para o seu corpo ou psiquismo.. Já é bem conhecida a negação como fase inicial nas pessoas que se descobrem portadoras de câncer.

O ditado popular “o amor é cego” também é um exemplo deste mecanismo.

Projeção. O indivíduo atribui a outro traços de caráter, atitudes, motivos ou desejos próprios que renega ou censura. Ex. Uma pessoa bastante agressiva, em uma discussão, dirá ao outro que ele está gritando (embora não esteja) ou sendo agressivo;

A projeção é a melhor explicação encontrada para a hipocrisia que permeia a nossa sociedade como um todo.

Transferência. Aqui a imagem de uma pessoa é identificada inconscientemente com a de outra. O indivíduo “transfere” as características de alguém conhecido anteriormente para outro que está conhecendo agora. Isto é muito subjetivo e essa imagem não é necessariamente o corpo físico, pode ser a expressão facial, um sorriso, o jeito de falar ou gesticular. Assim se explicam nossas simpatias e antipatias aparentemente sem causa.

percepção2

Como vêem na figura acima, a nossa percepção do outro é muita rápida e nesses poucos segundos já podemos, consciente ou inconscientemente tirar conclusões sobre a pessoa. No caso da transferência, é dentro desse tempo que ela já é utilizada.

Crenças. As crenças se estabelecem bem cedo na nossa vida. Na infância os pais ou pessoas que cuidam de uma criança transmitem-lhe conceitos, opiniões e julgamentos sobre os mais diversos tópicos. Logo a seguir vem tios, avós, professores, etc. Como a criança não tem parâmetros para discernir o que lhe convém, vai paulatinamente aceitando o que os adultos lhe dizem ou demostram (atitudes).

Essa é a origem de nossas crenças que organizam e estruturam o mundo em que vivemos.

O problema é que boa parte do que acreditamos está fundado em premissas falsas ou preconceituosas ou resultantes de nossa ignorância.

O ser humano é mestre em tirar conclusões precipitadas, julgar pelas aparências, não ir ao fundo das questões, falar por ouvir dizer, etc. e principalmente em não questionar.

Então, as crenças, por constituírem a maior parte do que somos, influenciam diretamente como percebemos o que nos rodeia. Por exemplo: existe a crença (diminuindo felizmente) de que o homem deve ser forte, não chorar, etc. Quando ele não age assim é percebido como fraco e, por aqueles mais preconceituosos, é percebido como “bichona”.

Já no universo feminino, existe a crença de que a mulher deve ser mãe para se realizar plenamente. As que deixam de ser mães por vontade própria são vistas como “estranhas” ou anormais.

Portanto quando você estiver tirando conclusões muito rapidamente ou julgando uma situação ou pessoa lembre que as suas percepções não são isentas de contaminação por seus conteúdos psíquicos interiores.

11 comentários:

Anônimo disse...

Atena querida, mais um maravilhoso texto !
Adorei !
Achei muito interessante o tópico sobre a Transferência, explicando o porque das simpatias e antipatias !
Isso acontece muito comigo !
Excelente !
Um enorme beijo !

Atena disse...

Samanta;
Que bom que gostou e que lhe tenha sido útil.
beijos

Eduardo Medeiros disse...

Antes de mais nada, ó deusa Atena, permita-me dizer que estou um pouco atrasado em minhas leituras deste centro de sabedoria, espiritualidade e pensamento; assim, penitencio-me!

rssss

Já lí as duas partes deste texto excelente. Quero comentar essa frase:

"O problema é que boa parte do que acreditamos está fundado em premissas falsas ou preconceituosas ou resultantes de nossa ignorância."

Mas deusa, você não disse antes que as percepções são subjetivas, que cada um tem seu mundo? Como podemos julgar a crença de alguém(principalmente religiosa), aquilo que lhe dá sentido para viver, a partir das nossas próprias concepções e percepções do que seja a verdade espiritual?

ò deusa, perdoe-me a ignorância e não me mande para o hades...rssss

beijos

Atena disse...

Caro Edu;

Está perdoado. rsrs
Vamos esclarecer: sempre que você encontrar a palavra crenças neste blog, ela está se referindo a totalidade delas, nosso sistema de crenças, e não à crença religiosa. Há um post sobre o assunto (Continuando a Matrix).
É claro que cada percepção é subjetiva, mas está principalmente fundamentada no sistema de crenças da pessoa, o que inclui muita baboseira passada de geração em geração.
Não há julgamento no que eu disse, somente constatação. Eu, como todo mundo, tenho as minhas crenças, ou melhor, aquelas às quais eu fui condicionada. Ninguém escapa disso.
O expandir a consciência é principalmente livrar-se do sistema de crenças limitantes sob o qual a humanidade vive há tanto tempo.
Espero ter clareado sua dúvida.
Um grande abraço

Eduardo Medeiros disse...

Entendo. De fato somos mesmos condicionados pelo nosso tempo mas podemos de fato, transcender nossas próprias crenças e julgá-las, mas são poucos que são capazes de fazer isso. Não que não possam mas porque estão satisfeitos(ou acham que estão)com suas crenças. Então, toco de novo na questão: o que é baboseira para nós hoje, já foi o cerne da existência para alguém no passado. Não discordo dos equívocos que nossos antepassados carregaram pois nós mesmos temos os nossos próprios. O que não concordo é julgar hoje com o conhecimento que temos, o sistema de crença dos povos antigos.

Nesse ponto entra também a sua afirmação sobre o Antigo Testamento. Como podemos julgar os equívocos que alí estão estampados? com a nossa cabeça de hoje é mole. Se estivéssemos lá com quase certeza pensaríamos como eles pensaram.

E com tudo isso, tem muita coisa aproveitável no AT que ainda hoje é atual. Como dizer que o Decálogo é algo ultrapassado?

abraço

Atena disse...

Edu:
Quando me refiro ao sistema de crenças, aí está incluído as crenças que herdamos de passado longínquo e as demais que forem sendo acrescentadas, boa parte delas referentes à Idade Moderna e Atual. As crenças estão sempre sendo criadas. São elas que moldam a nossa realidade. O que falta é maior consciência para discernir o que são crenças benignas e quais as limitadoras da nossa liberdade, expansão, criatividade, etc.

Os 10 mandamentos serviram muito bem àquela época. A humanidade de então tinha pouquíssima informação, cultura e consciência. Hoje, por exemplo, eu não entendo ser útil o mandamento que diz guardar o sétimo dia para deus. Na minha concepção o Criador deve ser lembrado a cada momento e não somente no sétimo dia da semana. Lembre a hipocrisia que resulta dessa “obediência” compulsória: os carolas vão aos templos e igrejas nos fins de semana, oram, dão louvas, gritam, cantam, se arrependem de seus “pecados” e na segunda feira já estão fazendo tudo o que fizeram de negativo na sua vidinha de sempre.

Amar ou honrar pai e mãe, por exemplo. Na época em que o AT foi escrito provavelmente era mais fácil se não amar, pelo menos honrar pai e mãe, mas nos dias atuais isso tá difícil para a totalidade dos filhos. Atualmente, há pais e mães que não fazem por onde ser amados, honrados muito menos.

Então precisamos ter lucidez ao considerarmos certas “obrigatoriedades” ditadas pelas religiões ou tradições religiosas e que acabaram se tornando crenças.
Agradeço a oportunidade que seus comentários proporcionaram para melhor entendimento do texto.
abração

Marcio Alves disse...

ATENA

Como esta semana foi muito corrido para mim, não tive tempo para ler seus novos textos, e nem responder ao seu comentário na minha postagem.

Mas hoje, eu consegui um tempinho, e aproveitei e já li os dois textos, parte 1 e parte 2, que alias está ótimo como sempre.

Vou colar aqui, um aforismo que escrevi, que sintetiza a idéia principal do seu texto que é: “Cada pessoa cada mundo em si mesmo, cada mundo em si é um universo caótico de idéias, pensamentos, vontades, desejos e percepções”.

Abraços

Obs: Respondi o seu comentário lá no meu blog, embora atrasado. Rsrsrsrsrs

Atena disse...

Marcito:
Excelente seu aforismo. É isso mesmo.
Vou lá no "Outro Evangelho". Tchau e bençãos. rsrs

SUCRIS disse...

Muito bom esses textos,Excelentes! São afirmativas reais de quem está consciente com o que se passa a sua volta,consigo e com os outros!É então de algum lugar que tiramos essas imensas conclusões e visões de um determinado todo,não é?A parte então dos mundos e entre mundos individuais esta fora do escopo mundano dos seres,né?Muito poucas pessoas conseguem inferir isto,muito poucas,acredite!Abraço Fraterno

Atena disse...

Sucris:
Matou a charada, é isso mesmo. rsrs
O Marcio sintetizou muito bem assim: “Cada pessoa cada mundo em si mesmo, cada mundo em si é um universo caótico de idéias, pensamentos, vontades, desejos e percepções”.
Este é um resumo do ser humano, enquanto está encarnado, pelo menos. Por isso o entendimento entre as pessoas é tão difícil.
Grande abraço

SUCRIS disse...

Valeu!Como se diz,Vivendo e Aprendendo! "OU NÃO",como dizem os baianos..Rs..Parece que não é pra todos e essa é a "fronteira final " Rs..Abraço Fraterno.