A violência contra a mulher vem aumentando pelo mundo. Parece que voltamos aos tempos da Idade Antiga. Só que naquela época não havia o grau de consciência humana que existe hoje. Então, o que está acontecendo?
Abaixo compartilho com vocês o resumo de um vídeo de Jackson Katz intitulado Tough Guise (aparência dura ou rude) que explica um lado dos motivos da violência contra as mulheres tendo como origem o machismo. O vídeo refere-se aos norteamericanos, mas não encontro diferenças entre lá e aqui ou qualquer outra parte do mundo no tocante ao assunto em pauta.
"O Mágico de Oz é citado como uma metáfora de como os homens usam uma máscara que é um disfarce de ser valentão - uma aparência dura.
Katz perguntou a jovens o que significava ser do sexo masculino e teve respostas como: forte, corpulento, independente, no controle, poderoso, atlético, duro, resistente. E, quando os homens não se conformam ao papel, eles são chamados, nerd, emocional, pederasta, bicha. Muita pressão em conformidade com o papel - inclusive e especialmente nos homens de cor.
Meios de comunicação são cruciais para o constrangimento dos homens, vendo masculinidade violenta como a norma cultural. Há uma conexão crescente na sociedade entre ser um homem e ser violento (há muitas estatísticas sobre os homens como sendo os violentos, 85% dos assassinatos são por homens, 95% da violência doméstica é por homens, 99% dos estupros na prisão são homens, etc
Meninos abusados tendem a crescer para assumir esse papel.
O que está acontecendo?
Parte I – Compreendendo a masculinidade violenta
Os homens perpetram 90% da violência na sociedade e esta (a mídia especialmente) tende a focar os grupos subordinados, não os dominantes. A visibilidade da masculinidade é jogada fora – a mídia diz que é "crianças matando crianças" - não meninos matando meninos e meninas. Exemplos do New York Times, etc. suportam isso.
Katz diz que se você não o disser, vai deixar de fora elemento importante na discussão subsequente e observa que quando as mulheres são violentas, quase sempre é uma parte importante da história (exemplos são Lorena Bobbit, que cortou o pênis do marido e do filme, Thelma e Louise). Katz diz que temos de torná-lo visível. Fazendo com que a masculinidade violenta seja visível é o primeiro passo para ver como ela funciona na cultura.
Katz diz que a imagem dos homens e da masculinidade tem mudado ao longo dos últimos 50 anos, com homens mais corpulentos e agressivos (ex. Superman, Batman, estatuetas de Star Wars, GI Joe - com bíceps aumentando, nos anos 70, de 12 polegadas para as atuais 26 polegadas. Também muitas mudanças de rostos nas telas de cinema com caras durões como Boggie, Connery, Eastwood, Stallone ou Schwarzenegger - com atos mais agressivos e armas maiores.
As mulheres mudaram exatamente o oposto - a maioria delas para uma aparência mais esguia.
As imagens não são um acidente — homens brancos heterossexuais são, na maior parte, responsáveis pelo conteúdo que é produzido. Katz diz que o desenvolvimento tem contexto histórico que se consubstancia como reação à ameaça ao poder cultural, social, econômico (realizado principalmente por homens brancos) por movimentos como o dos direitos civis, o movimento de mulheres e o movimento de homossexuais.
Katz também cita o aumento da celebração da violência nos esportes, jogos de ação e filmes de terror. Ele conecta isto a uma reação masculina contra ganhos econômicos e sociais das mulheres e à libertação gay. Violência prejudica as vítimas, claro, mas ela envia uma mensagem que é melhor os homens não tentarem qualquer novo tipo de masculinidade também.
O sentimento anti-guerra durante a guerra do Vietnã deu origem à alegação de que nós tínhamos perdido nosso orgulho masculino e representa a atitude machista que o movimento anti-guerra era o problema (ex. Rambo). Katz usa exemplos de "Rocky", Ronald Reagan e John Wayne para o incremento do “papel de durão”.
Ele cita a "Pose Impassível" de Richard Myers (general de 4 estrelas que planejou e executou a invasão do Iraque em 2003) como suporte de como a aparência dura adotada pelos homens acontece por causa da pressão social e cultural - vindo até nós através da mídia de massa. Ele diz que estruturas sociais e econômicas sistematicamente mudaram a realidade, deixando apenas a pose. Citando exemplos de mídia, Katz diz que não deve ser nenhum enigma quando rapazes brancos estão agindo como pretos, desde que isto também é um ato e eles também podem assumir uma pose preta urbana.
Assim, masculinidade é uma pose, uma performance, aprendida em nossa sociedade e cultura e ensinada em grande parte pelos meios de comunicação (exercendo a função de professor). Temos de nos perguntar como e por que isso acontece, as consequências e o que pode ser feito.
Parte II – Masculinidade Violenta
Esta seção explora a construção da masculinidade violenta, a conexão à violência e sugere algumas respostas.
Katz conecta a violência a uma sociedade americana, ele afirma, que ela constrói a masculinidade em torno de dominação e violência. Este segmento apresenta as consequências sociais da pose: tiroteios nas escolas, construindo a masculinidade violenta, violência sexualizada, invulnerabilidade , mas também oferece esperança.
O século XX foi o mais sangrento na história, com muita postura e criticismo dos gay. Katz diz que será exigido um tipo diferente de coragem para sair do papel de durão. Os homens são pressionados para isso, assim a sociedade pode continuar a fazer progressos. A coragem deve ser vista como o ato de oposição a assumir a pose de durão e a mudança vai ser difícil porque a masculinidade violenta é uma norma cultural na América e vinculada a instituições sociais, políticas e institucionais.
Algumas soluções possíveis:
1) Katz diz que temos que mudar o "ambiente cultural" (cita George Gerbner em Telas da Morte, filme sobre a violência e o papel da mídia). Para começar, homens devem ter "coragem" para trabalhar com mulheres e demonstrar isso livremente. Eles precisam ver um retrato mais honesto da vulnerabilidade masculina. Então, também poderão participar com outros - como alianças gay/hetero, mas a mudança deve acontecer em um nível pessoal e institucional (meios de comunicação são instituições, juntamente com escolas, etc.).
2) Garotas e mulheres devem mostrar que elas valorizam homens que rejeitam o disfarce de durão.
3) As pessoas devem trabalhar para quebrar a mídia controlada por homens ricos, brancos que controlam as histórias existentes e incluir mais histórias sobre homens como seres humanos não presos pelo disfarce da aparência de durões.”
Fonte: http://hope.journ.wwu.edu/tpilgrim/j190/toughguise.vidsum.html
Estatísticas
Nos EUA, 17,6% das mulheres sofreram algum tipo de violação. 21,6% eram menores de 12 anos de idade quando foram estupradas, e 32,4% estavam entre as idades de 12 e 17. Muitas destas ações foram executadas por alguém conhecido da vítima. Alguém é violentada no país a cada dois minutos.
55.000 mulheres e crianças são traficadas anualmente nos Estados Unidos da América.
4 milhões de mulheres e meninas são traficadas anualmente no mundo, enquanto um milhão de meninas entram no comércio sexual.
Dados brasileiros - Pesquisa Ibope:
Aproximadamente uma em cada três mulheres pesquisadas em São Paulo e Pernambuco diz já ter sofrido algum tipo de violência cometida pelo parceiro. Uma em cada cinco brasileiras declara espontaneamente já ter sofrido algum tipo de violência por parte de um homem.
A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.
A violência sexual antes dos 15 anos foi relatada por 12% das mulheres em São Paulo e 9% na Zona da Mata em Pernambuco.
De 1980 a 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres no Brasil, 43,5 mil só na última década.
Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência. 94% conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13% sabem seu conteúdo. (Instituto Avon)
O que você leitor pode fazer para melhorar essa situação? Reflita sobre isso.
Imagem: batanoticias.com.br
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