Em Psicologia define-se identificação como: um processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro.
Estou trazendo este tema para reflexão porque tenho notado que nos últimos anos, após o advento do culto à imagem, está havendo muita identificação, principalmente por parte dos jovens, com figuras que aparecem na mídia.
Pode se confundir empatia com identificação, mas são diferentes. Empatia é sentir com o outro, identificação é sentir e/ou agir como o outro e pode ser uma característica doentia. Por ex: você se identifica muito com um amigo e quando ele está com dor na coluna, você também passa a sentir dor.
Na adolescência é até considerado “normal” a identificação por tratar-se de uma fase de transição, onde o ser ainda não estabeleceu sua identidade completamente, mas passada esta época a identificação pode assumir um aspecto preocupante. Aqui não me refiro à identificação “normal” (sem caráter de mecanismo psicológico) como por ex. identificar-se com outro indivíduo porque ambos são da mesma espécie: humanos.
A identificação não precisa ser necessariamente com outra pessoa/s, lembro-me com horror de um programa de TV que assisti faz tempo onde aparecia uma jovem americana que fez uma infinidade de cirurgias plásticas para ficar “igual” à Barbie.
Também é bem comum a identificação com as massas em determinadas circunstâncias. Um mestre já disse: “Alguém vai andando por uma rua, de repente se encontra com as turbas que vão protestar por algo ante o palácio do Presidente. Se não está em estado de alerta (auto-observação) identifica-se com o desfile, mescla-se com as multidões, fascina-se e a seguir vem o sonho: grita, lança pedras, faz coisas que em outras circunstâncias não faria, nem por um milhão de dólares”.
A esse fenômeno Freud dizia ser trocar o ideal de ego pelo ideal de massa e também afirmava que o irreal sempre prevalece sobre o real (este assunto dá um livro ...).
Portanto identifica-se um tripé neste tema: identificação – fascinação – sonho (o irreal). É muito fácil deixar-se levar pela fascinação. A fascinação nos remove, ainda que por instantes, da banalidade e/ou mesmice do dia a dia e aí reside o perigo de se resvalar para o sonho (o irreal).
Para ser honesta, antes de continuar, devo lembrar a todos que as religiões sempre pregaram a dissolução do indivíduo em favor do bem maior de todos (!?). Nos foi ensinado que pensar primeiro em si é egocentrismo e contrário às leis cristãs. Isto acabou por gerar “seres catatônicos, acéfalos que seguem os meandros da passividade e do conformismo”. (Fábio Cardoso Lopes) Bem, nem tanto, mas que a frase é de efeito, lá isso é ...rsrs
Exageros de lado, em muitas situações e/ou culturas encontramos exatamente isso, pessoas que se deixam levar pelos seus governantes, pelos seus pastores ou padres e finalmente pela mídia (“ser” onipresente nos dias atuais) o que as induz à identificação com aqueles que são “exemplos”. Já no seio da juventude vemos os jovens, e até crianças, identificando-se com astros da música e do futebol. Usam as mesmas roupas e penteados de seu “ídolo”, repetem as frases das pseudo-músicas tão em voga atualmente e por aí vai.
Não existe mais originalidade, todo mundo vai na “onda” do que está na moda sem parar para refletir se lhe é adequado ou não, se é saudável ou não, se é ridículo ou não.
A identificação com as massas é sempre perigosa, desde aquela com astros pop drogados a outras de caráter violento que ocorrem nas convulsões político-sociais.
“Os indivíduos em vez de estarem identificando entre si, estão identificando com a totalidade social irracional. Os indivíduos têm de dar conta da falsidade de sua própria condição: ser objeto e não sujeito em uma tal realidade em que ele se amolda à dominação social.” (Dulce Regina dos Santos Pedrossian)
É impossível que alguém possa despertar a consciência se se deixar fascinar, se cair no sonho.
Imagem: tribosurbanas23.blogspot.com
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17 comentários:
Todo mundo vai na onda isto é fato.
Atena
Quero parabenizá-la pela consistência de seu texto, bastante esclarecedor sobre um tema que nós educadores e pais nos defrontamos diariamente.
Um forte abraço
Acho que existe uma identificação de uma certa faixa etária com um determinado pensamento vigente. Por exemplo, na década de 70 os jovens se identificavam com o pensamento hippie, mais adiante os jovens irão se identificar com os punks e por aí vai.Atualmente, devido à crise econômica na Europa e EUA, formou-se um pensamento minimalista. Mas acho que tudo isso são fases. Conforme as pessoas vão amadurecendo deixam de se identificar com esses ideais e passam para a próxima etapa da vida.
Olá,
Muito interessante o texto!
Poderia falar um pouco sobre o processo de identificação, ainda quando criança, com os pais?? Nessa correria de hoje, parece que esta identificação (com os pais) está perdendo espaço para a identificação com a massa.
Muito legal quando você citou a religião. Cada vez mais percebo que somos "levados" por essa massa, comecei a ler o livro do Carl Sagan (o do vídeo que citei antes), "O Mundo Assombrado Pelos Demonios", to no comecinho, mas o livro parece ser muito bom!!! O auto bate muito na tecla que a sociedade não possui educação científica básica (imagine aqui no Brasil) o que abre espaço para as superstições, e a religião vem a preencher esta lacuna...aí já viu.
Abraço,
Edinaldo Oliveira
Atena, parabéns pelo blog! Minha mãe é psicóloga e meu pai tb era. Muito interessante esse seu texto. É assustador como as pessoas andam sem personalidade. Basta aparecer algum jogador, ator, ou personagem, para que vários 'fãs' procurem diversas maneiras de se parecerem com a moda do momento ou com artistas que supostamente admiram. Nada contra gostar ou admirar esse tipo de coisa (até tenho um blog sobre televisão, veículo que dita muita moda), mas daí a virar um fanático são outros quinhentos. Beijos.
Olá, Madalena, seja bem vinda.
É essa estória da onda, tá na moda. rsrs
abraços
Antonio:
Obrigada pela visita e incentivo.
abraços
Olá, Leila, que prazer encontrá-la por aqui.
Sim, quando a identificação é em função de modismos pode ser apenas uma fase, principalmente em se tratando dos jovens, mas nem sempre é assim. Existe a identificação também em adultos e creio que talvez essa seja um assunto mais complicado.
Obrigada pela visita e abraços
Edinaldo:
Você me deu assunto para outro post. Aguarde.
Quanto à educação, estamos longe de ter um povo educado aqui no Brasil, mas mesmo em países chamados de 1° mundo a grande massa é muito ignorante.
Considero a religião um dos piores males da humanidade, pois ela causa males à psique, embutindo falsas crenças na cabeça das pessoas e estimulando a baixa autoestima com a estória da culpa.
Assisti ao vídeo recomendado. Excelente.
Ontem fiz os testes indicados por você, mas não comentei porque minha internet virou tartaruga de repente. rsrs
abração
Sergio;
Pois é, lembro que na minha juventude todos adoravam os Beattles, mas não se via ninguém usando roupas ou cabelos parecidos com os deles. Parece-me que atualmente está havendo uma despersonalização dos jovens e isso além de triste é preocupante.
Obrigada pela visita e seja sempre bem vindo
Oi Atena
Post divulgado e saiba que estaremos sempre de portas abertas para você e seus amigos.
Até mais
Oi, beleza?
tema muito interessante!! lembrei que na adolescência me identifiquei com muita gente(reais ou ficcionais) que eu admirava.
Mas não é possível, Atena, uma identificação que não seja assim tão patológica?
O cristianismo prega sim pensar primeiro no outro, mas isso só pode ser feito quanto antes, você já pensou em si mesmo.
A regra era: Amar ao próximo como a ti mesmo.
achei a crítica à religião cristã sem muito sentido.
beijos
Caro Edu:
O texto esclarece que nem toda identificação é preocupante, muito menos patológica que foi o termo que você usou.
A identificação é um fenômeno muito comum nos seres humanos, faz parte do nosso repertório. rsrs
Quanto à crítica à religião cristã, não esmiucei o assunto, mas se o fizesse ficaria bem claro que as religiões, principalmente as cristãs, são as responsáveis por grande parte dos problemas psicológicos da humanidade.
abraços
Oi Atena,
excelente tema e sempre atualissimo afinal este é um fenômeno recorrente que se aprofunda numa cultura de massa voltada para o mercado de consumo.Quando penso sobre alternativas para superarmos este processo de identificação extrema e alienante, concluo de que o grande entrave é não termos uma educação de qualidade voltada para a reflexão e aprofundamentos criticos.. ai sim, Atena poderiamos evitar que este processo de despersonalização se agravasse ao extremo como acontece atualmente..
beijos no coração amiga...
Mariangela:
Você está certíssima, uma boa educação ajudaria e muito nesse quesito. Infelizmente na escola atual não é ensinado "o pensar", fica tudo só na memorização de informações e pronto.
O método socrático de ensino está fazendo falta.
Obrigada pela visita e beijos
Em primeiro lugar quero dizer que concordo com tudo que está escrito no texto.Principalmente no que se refere a Religião...Só que estes tempos li um livro do filósofo comtemporâneo Alain de Botton que se chama "Religião para Ateus", pois para minha surpresa o autor(Ateu)descreve vários argumentos em favor das religiões e o texto dele me fez pensar porque em alguns pontos considero que ele tem razão.Gostei do livro e confesso que toca em aspectos relevantes que eu nunca tinha cogitado.
abrços
Lutero:
Eu sou radicalmente avessa à religiões por causa de todo o mal que já causaram à humanidade e ainda causam, mas sendo justa vejo nelas alguns pontos positivos. Como tudo o mais, há os dois lados da moeda.
Vou procurar ver o livro citado, talvez melhore um pouco a minha opinião sobre religiões. rsrs
abraços e obrigada pela visita
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