"No Egito as bibliotecas eram chamadas Tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.”

(Jacques Bossuet).

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Machismo e a violência contra a mulher

machismo

A violência contra a mulher vem aumentando pelo mundo. Parece que voltamos aos tempos da Idade Antiga. Só que naquela época não havia o grau de consciência humana que existe hoje. Então, o que está acontecendo?

Abaixo compartilho com vocês o resumo de um vídeo de Jackson Katz intitulado Tough Guise (aparência dura ou rude) que explica um lado dos motivos da violência contra as mulheres tendo como origem o machismo. O vídeo refere-se aos norteamericanos, mas não encontro diferenças entre lá e aqui ou qualquer outra parte do mundo no tocante ao assunto em pauta.

"O Mágico de Oz é citado como uma metáfora de como os homens usam uma máscara que é um disfarce de ser valentão - uma aparência dura.

Katz perguntou a jovens o que significava ser do sexo masculino e teve respostas como: forte, corpulento, independente, no controle, poderoso, atlético, duro, resistente. E, quando os homens não se conformam ao papel, eles são chamados, nerd, emocional, pederasta, bicha. Muita pressão em conformidade com o papel - inclusive e especialmente nos homens de cor.

Meios de comunicação são cruciais para o constrangimento dos homens, vendo masculinidade violenta como a norma cultural. Há uma conexão crescente na sociedade entre ser um homem e ser violento (há muitas estatísticas sobre os homens como sendo os violentos, 85% dos assassinatos são por homens, 95% da violência doméstica é por homens, 99% dos estupros na prisão são homens, etc

Meninos abusados tendem a crescer para assumir esse papel.

O que está acontecendo?

Parte I – Compreendendo a masculinidade violenta

Os homens perpetram 90% da violência na sociedade e esta (a mídia especialmente) tende a focar os grupos subordinados, não os dominantes. A visibilidade da masculinidade é jogada fora – a mídia diz que é "crianças matando crianças" - não meninos matando meninos e meninas. Exemplos do New York Times, etc. suportam isso.

Katz diz que se você não o disser, vai deixar de fora elemento importante na discussão subsequente e observa que quando as mulheres são violentas, quase sempre é uma parte importante da história (exemplos são Lorena Bobbit, que cortou o pênis do marido e do filme, Thelma e Louise). Katz diz que temos de torná-lo visível. Fazendo com que a masculinidade violenta seja visível é o primeiro passo para ver como ela funciona na cultura.

Katz diz que a imagem dos homens e da masculinidade tem mudado ao longo dos últimos 50 anos, com homens mais corpulentos e agressivos (ex. Superman, Batman, estatuetas de Star Wars, GI Joe - com bíceps aumentando, nos anos 70, de 12 polegadas para as atuais 26 polegadas. Também muitas mudanças de rostos nas telas de cinema com caras durões como Boggie, Connery, Eastwood, Stallone ou Schwarzenegger - com atos mais agressivos e armas maiores.

As mulheres mudaram exatamente o oposto - a maioria delas para uma aparência mais esguia.

As imagens não são um acidente — homens brancos heterossexuais são, na maior parte, responsáveis pelo conteúdo que é produzido. Katz diz que o desenvolvimento tem contexto histórico que se consubstancia como reação à ameaça ao poder cultural, social, econômico (realizado principalmente por homens brancos) por movimentos como o dos direitos civis, o movimento de mulheres e o movimento de homossexuais.

Katz também cita o aumento da celebração da violência nos esportes, jogos de ação e filmes de terror. Ele conecta isto a uma reação masculina contra ganhos econômicos e sociais das mulheres e à libertação gay. Violência prejudica as vítimas, claro, mas ela envia uma mensagem que é melhor os homens não tentarem qualquer novo tipo de masculinidade também.

O sentimento anti-guerra durante a guerra do Vietnã deu origem à alegação de que nós tínhamos perdido nosso orgulho masculino e representa a atitude machista que o movimento anti-guerra era o problema (ex. Rambo). Katz usa exemplos de "Rocky", Ronald Reagan e John Wayne para o incremento do “papel de durão”.

Ele cita a "Pose Impassível" de Richard Myers (general de 4 estrelas que planejou e executou a invasão do Iraque em 2003) como suporte de como a aparência dura adotada pelos homens acontece por causa da pressão social e cultural - vindo até nós através da mídia de massa. Ele diz que estruturas sociais e econômicas sistematicamente mudaram a realidade, deixando apenas a pose. Citando exemplos de mídia, Katz diz que não deve ser nenhum enigma quando rapazes brancos estão agindo como pretos, desde que isto também é um ato e eles também podem assumir uma pose preta urbana.

Assim, masculinidade é uma pose, uma performance, aprendida em nossa sociedade e cultura e ensinada em grande parte pelos meios de comunicação (exercendo a função de professor). Temos de nos perguntar como e por que isso acontece, as consequências e o que pode ser feito.

Parte II – Masculinidade Violenta

Esta seção explora a construção da masculinidade violenta, a conexão à violência e sugere algumas respostas.

Katz conecta a violência a uma sociedade americana, ele afirma, que ela constrói a masculinidade em torno de dominação e violência. Este segmento apresenta as consequências sociais da pose: tiroteios nas escolas, construindo a masculinidade violenta, violência sexualizada, invulnerabilidade , mas também oferece esperança.

O século XX foi o mais sangrento na história, com muita postura e criticismo dos gay. Katz diz que será exigido um tipo diferente de coragem para sair do papel de durão. Os homens são pressionados para isso, assim a sociedade pode continuar a fazer progressos. A coragem deve ser vista como o ato de oposição a assumir a pose de durão e a mudança vai ser difícil porque a masculinidade violenta é uma norma cultural na América e vinculada a instituições sociais, políticas e institucionais.

Algumas soluções possíveis:

1) Katz diz que temos que mudar o "ambiente cultural" (cita George Gerbner em Telas da Morte, filme sobre a violência e o papel da mídia). Para começar, homens devem ter "coragem" para trabalhar com mulheres e demonstrar isso livremente. Eles precisam ver um retrato mais honesto da vulnerabilidade masculina. Então, também poderão participar com outros - como alianças gay/hetero, mas a mudança deve acontecer em um nível pessoal e institucional (meios de comunicação são instituições, juntamente com escolas, etc.).

2) Garotas e mulheres devem mostrar que elas valorizam homens que rejeitam o disfarce de durão.

3) As pessoas devem trabalhar para quebrar a mídia controlada por homens ricos, brancos que controlam as histórias existentes e incluir mais histórias sobre homens como seres humanos não presos pelo disfarce da aparência de durões.”

Fonte: http://hope.journ.wwu.edu/tpilgrim/j190/toughguise.vidsum.html

Estatísticas

Nos EUA, 17,6% das mulheres sofreram algum tipo de violação. 21,6% eram menores de 12 anos de idade quando foram estupradas, e 32,4% estavam entre as idades de 12 e 17. Muitas destas ações foram executadas por alguém conhecido da vítima. Alguém é violentada no país a cada dois minutos.

55.000 mulheres e crianças são traficadas anualmente nos Estados Unidos da América.

4 milhões de mulheres e meninas são traficadas anualmente no mundo, enquanto um milhão de meninas entram no comércio sexual.

Dados brasileiros - Pesquisa Ibope:

Aproximadamente uma em cada três mulheres pesquisadas em São Paulo e Pernambuco diz já ter sofrido algum tipo de violência cometida pelo parceiro. Uma em cada cinco brasileiras declara espontaneamente já ter sofrido algum tipo de violência por parte de um homem.

A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.

A violência sexual antes dos 15 anos foi relatada por 12% das mulheres em São Paulo e 9% na Zona da Mata em Pernambuco.

De 1980 a 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres no Brasil, 43,5 mil só na última década.

Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência. 94% conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13% sabem seu conteúdo. (Instituto Avon)

O que você leitor pode fazer para melhorar essa situação? Reflita sobre isso.

Imagem: batanoticias.com.br

Este blog foi criado para você, leitor. E só saberei se você está satisfeito se comentar os posts, ou então, pergunte, questione e sugira temas ou modificações.

17 comentários:

Samanta disse...

Olá querida Atena como vai?

Este assunto é de extrema importância para todos nós, ainda mais quando temos conhecimento das estatísticas que só fazem crescer, infelizmente.
Por causa de coisas assim é que sou a favor de tratamento psicológico em todas as crianças, inclusive nas escolas. São tantas as variáveis que resultam neste comportamento irracional, que acredito que se tratados desde pequenos talvez tenhamos mais adultos saudáveis e equilibrados.
Já passei por duas das situações mencionadas, abuso na pré-adolescência e mais tarde, aos 20 e poucos anos, uma relação com agressões físicas e psicológicas. Infelizmente não estamos apoiadas pela Lei, quando eu procurei a polícia depois de ser agredida, um policial me disse que não poderia fazer nada a não ser que pegassem o sujeito em flagrante. Então eu disse : Quer dizer que quando ele me bater, eu peço um minutinho, ligo para a polícia e depois falo para ele continuar até você chagarem? Ou será que quando eu estiver morta numa vala, será flagrante?
Muitos dizem que mulher que aceita isso gosta de apanhar, outra ignorância. Eu fiquei ainda muitos meses com esta pessoa porque ele comprou uma arma e disse que se eu o abandonasse ele matava minha mãe e irmão. Todos os dias ele ia na porta do trabalho da minha mãe armado... O inferno só parou quando minha família se juntou e foi pressioná-lo. Mesmo assim, ele ainda me seguia na rua depois disso e fazia ameaças...
Acredito que se mudarmos nossa cultura e também algumas condutas de valorização do machismo, como mencionado, quem sabe este quadro melhore. Mas acho que principalmente os homens devem ter esta vontade de mudar, sem isso, nem lavagem cerebral adianta :)
Ótima postagem, como sempre :)

Grande beijooo e bom fim de semana!

Gabriel Correia disse...

Atena, Gostei esse post tem tudo Haver com cultura da não covardia. Pena que o autor ainda não foi apresentado a minha ideia o termo covardia precisa ser mencionado acusar homens de violentos pode soar elogioso temos que contribuir com a cultura da não covardia chamando covardes como devem ser chamados de COVARDES! EU só teria um ressalva a fazer ao que entendi do texto. Eu tenho um pouco de resistência a aceitar que as coisas tenham um controle, uma dominação, tenho uma tendencia a acreditar que somos todos "vitimas" de nossa atual condição ainda bestial. Noto que as vezes esses temas são evocados com um tom de luta de classes, admito que exista isso até um certo ponto mas o agir não é por ai. Se existisse esse suposta dominação as coisas até poderiam ser menos difíceis não é o caso. Neste sentido as coisas ficam bem mais complicadas, espero estar dando uma contribuição que no meu entender é bem(muito mesmo)importante com a CULTURA DA NÃO COVARDIA. Um abração.

Atena disse...

Sam:
Estou chocada com sua história e também penalizada por suas cicatrizes (as emocionais, difíceis de extinguir). Ainda bem que você é uma pessoa forte e conseguiu refazer sua vida.
Sim, precisamos mudar conceitos e comportamentos, principalmente o de valorização do machismo. O problema é que muitos homens se consideram (inconscientemente) inferiores às mulheres e o machismo e a violência contra elas é a forma que eles encontram de se sentirem melhores (Freud explica).
Será que agora que existe a Lei Maria da Penha essa atitude da polícia mudou? Espero que sim.
Beijocas e bom findi pra você também

Unknown disse...

A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.

Quando eu leio coisas assim acho que faço muito bem em não namorar.. eu sei que nem todos são assim.. mas é o que sinto..

Atena disse...

Oi, Gabriel:
Você tem toda razão, eles são é covardes mesmo.
O argumento usado no texto quanto à dominação de um certo grupo é real, embora não sirva de justificativa, somente como explicação.
abraços

Atena disse...

Luciana:
No meio dos violentos tem muito cara bacana por aí. Cuidado para o medo não impedir você de ter uma vida mais satisfatória. O ser humano não nasceu para viver sozinho, lembre disso.
beijos

Unknown disse...

Eu não me sinto perdendo nada por não namorar.. Eu tenho amigos.. é o suficiente.. MInha vida é boa.. não preciso namorar para torna-la melhor.. Além disso acho que não tenho habilidade de apaixonar por outra pessoa.. simplesmente não acontece comigo!!

Portal de Blogs Teia disse...

Oi Atena.
Post divulgado no Portal Teia
Até mais

Atena disse...

Oi, Alfredo. Obrigada
abraços

David Coutinho disse...

Muito interessante este texto. Ainda não conhecia. Mas é muito bom. Todo crente (em qualquer deus) deveria ler... Abraços!

Atena disse...

David:
Agradeço sua visita e apreciação. Seja bem vindo.

Anônimo disse...

A luta das mulheres continua. Eu vi muitas vezes homens agindo com agressividade ñ só. verbalmente, mas moralmente e até fisicamente, mas isso ñ pode acontecer. Fico indignada por saber q mesmo nos dias de hoje ainda há homens assim e q por incrivel q pareça há mulheres q acham isso normal, pq viveram ou
foram criadas assistindo as atitudes agressivas e grosseiras de um homem. Fui vitima da agressao verbal,mas nao aceitei, nao aceito e nao me calo. E tbm jamais vou deixar de acreditar na vida e a felicidade é possivel, ela está. dentro da gente e ñ nos outro.

Atena disse...

Anônimo:
Aqui você disse tudo: "a felicidade é possivel, ela está. dentro da gente e ñ no outro".
A mulher que se ama não fica o lado de um companheiro que a maltrate.
Este assunto dá muito pano pra manga, rsrs
É preciso continuar divulgando e também delatando os agressores.
Obrigada pela visita e volte sempre.
abraços

MZ disse...

Oi, Atena! Vale lembrar a influência das religiões fundamentalistas Judaísmo,cristianismo e islamismo que em muito colaboram com o machismo.Aqui no ocidente, por exemplo o sistema judaico-cristão foi o responsável por moldar a nossa sociedade(sob o modelo patriarcal). Observemos que na Bíblia(principalmente no velho testamento, que a mulher é vista como inferior ao homem e não é mais que um simples animal para a reprodução.No Brasil, isso é preocupante pois estamos diante de um revival amplamente organizado do ramo cristão que é mais próximo do judaismo(as igrejas evangélicas):onde se diz todos os dias:a mulher deve ser submissa ao seu varão,e blá,blá,blá....que nojo!

Atena disse...

Sim, Márcia, essa história é antiga, vem dos tempos bíblicos. Já postei algumas "pérolas" ditas por homens famosos aqui em "Mulher ainda é um ser inferior?"
Herdamos dos antigos essa falta de respeito pela mulher, mas puxa, estamos em pleno século 21, já não tá mais do que na hora de evoluir?
Obrigada pela visita e abraços

Rebeca Sencades disse...

Olá Atena, adorei seu blog e suas idéias, estou a procura de fontes novas para desvendar o porquê da violência contra a mulher ainda ser tão forte no Brasil, principalmente em Pernambuco e São Paulo, se puder me sugerir algumas publicações eu ficaria muito agradecida, eu gostaria muito de fazer essa pesquisa.

Atena disse...

Olá, Rebeca:
No momento não lembro de qualquer publicação para indicar, mas procure informações na CPMI do Congresso sobre violência contra a mulher. Eles devem ter dados suficientes.
Obrigada pela visita.